segunda-feira, 21 de abril de 2014

RENOVAÇÃO

          Depois de um bom tempo à espera de um espaço para escrever, parece que agora volto ao teclado para mais reflexões.
         Não que nós paremos de pensar (como se fosse possível) ou de analisar uma ou outra questão. Mas parece que a vida nos oferece ciclos, onde diversificamos nossas atividades, nossos interesses e isso, tem me parecido salutar, porque nos oportuniza renovar nossa mente, desfocar um pouco de uma coisa para observar outras que, no final de tudo, acabam contribuindo para novas reflexões.
          Renovação é um tema essencial na vida do cristão e que se reveste de urgência nese tempo que estamos vivendo.
           Renovação não significa necessariamente que devemos seguir posturas ou valores que estão em vigência na contemporaneidade. Porém, implica em uma mudança, uma revisão em nossa forma de pensar, em nossos conceitos e, até mesmo, nas motivações para as atitudes que tomamos cotidianamente.
          Renovação exprime um estar em mutação, ou seja, ser tomado por um dinamismo espiritual que promove o surgimento de novas paisagens em nós. Isso implica em ter um permanente canteiro de obras em nós, por uma necessidade de adequação às realidades e circunstâncias que compõem o  cotidiano de nossa vida, os quais nos obrigam a um permanente estado de construção e reconstrução.
          Isso é algo que irá moldar nossos sentimentos e intelecto de forma que possamos sobreviver em um mundo hostil, em seus princípios e conceitos, à Palavra de Deus e a uma forma de viver agradável a Deus. E o apóstolo Paulo torna isso evidente isso, quando escreve aos Romanos (cap. 12, v. 2), que se transformassem pela "renovação da mente", a fim de não se conformarem com o mundo e pudessem experimentar "a boa, agradável e perfeita vontade de Deus."
          Acho interessante que o mundo, apesar de todas as inovações tecnológicas, de todas as variações de moda, nas artes e costumes, não consegue promover mudanças profundas no ser humano, isto é, transformações que sejam significativas para seu crescimento como pessoa, como ser espiritual. O processo que se desencadeia é o de transformar gente em zumbis, em autômatos programados por um sistema que por sua velocidade não permite a sedimentação de valores consistentes que implicariam em dar uma personalidade, uma identidade, um rumo certo aos homens. 
          Assim, ao fazer parte dessa roda-viva que aflige a contemporaneidade, perde-se noções importantes como a de tempo, a de limites espaciais e morais e o que é pior, perde-se algumas coisas que são fundamentais a nossa sobrevivência como seres humanos: a autocrítica, o poder de reflexão e a profundidade espiritual.
          Estes três males, que há muito arrebatam aqueles que vivem segundo o sistema mundano, têm entrado, de forma desafiadora no contexto da igreja, alcançando, em especial, jovens e adolescentes, aqueles que deveriam, daqui há alguns anos, assumir a liderança dos diversos arraiais evangélicos. E a prova mais cabal disso, é o desinteresse e o descompromisso que muitos têm demonstrado para com as coisas de Deus, além do desespero que um número crescente de pais vêm demonstrando diante dos mais escabrosos comportamentos assumidos por seus filhos, criados na igreja, frequentando escola dominical e escola bíblica de férias.
          A falta de autocrítica nos impede de reconhecermos com clareza nossa condição de pecadores e necessitados da graça divina. A falta de discernimento ético-moral e de um julgamento equilibrado por nossa consciência acerca dos hábitos que cultivamos e dos atos que praticamos,  invariavelmente, empurram-nos para a soberba, onde acreditamos sempre estar certos; para uma vida dissoluta, onde não acreditamos mais em valores; ou para um desequilíbrio tão forte que somos tragados por uma baixa autoestima tal,  que já não acreditamos haver esperança para nós, portanto, o caminho é continuar seguindo para o buraco ou, o que é pior, o suicídio. É incrível, mas muitos cristãos já não sabem quem são em Cristo Jesus.
          A perda do poder de reflexão é outra enfermidade perigosa, por impedir que analisemos de forma criteriosa, empregando critérios seguros e parâmetros adequados, aquilo que é apresentado a nossa mente sob a forma de verdade. Logo, é comum que uma doutrina qualquer, contrária aos princípios e mandamentos preconizados nas Escrituras, só por estar "embalada" em um invólucro chamativo, pleno de cores e atrativos, enlace um efetivo considerável de pessoas que não param para refletir mais detidamente sobre o que lhes está sendo oferecido como alimento espiritual. É necessário que o ensino ministrado seja passado no crivo da Palavra e pelo fogo do Espírito. Púlpitos desprovidos de alimento saudável e de fogo divino, produzem ovelhas doentes, doentes pela subnutrição espiritual e cujas vidas são pavios fumegantes, quando não, apagados.
          Por fim, a perda da profundidade espiritual consiste em um relacionamento frágil com o Senhor, com sua Palavra e com a Igreja. As orações têm unicamente um caráter de petição, de braganha, de cobrança, em lugar de mostrarem-se um diálogo amistoso e agradável com o melhor amigo, um derramar de espírito em adoração e louvor Àquele que é digno de receber honra, glória e de ser exaltado. Lê-se a Palavra (quando é lida) unicamente por um hábito ou mera obrigação, não por prazer e como objeto de nossa meditação e estudo e a Igreja é simplesmente um point, onde a maioria cumpre com a obrigação social de ter uma religião, onde muitos vão para encontrar os amigos, para ter uma boa conversa ou ouvir boa música. Estão lá porque não têm coragem de ir para o mundo, ainda que seu coração (e seu corpo) estremeça diante dos prazeres que ele lhea oferece.
          Logo, perdemos o processo de moldagem que a renovação nos proporciona por uma ação sobrenatural do Espírito Santo, que mexe com nossas estruturas, revolve nosso interior, entretanto, requer nossa participação, ou seja, é um processo de parceria.
          Esta sinergia cobre que eu abra meu entendimento a realidades espirituais diversas daquelas que estou habituado. Assim, eu preciso me dispor a passar por uma revisão, onde, nem sempre, o que encontro é agradável, pois é discordante daquilo que gostaria de ver ou ouvir. E é importante ressaltar que esse desagrado é fruto do trabalho da minha consciência, a qual  eu não posso enganar.
          Então, essa revisão vai me apontar áreas onde eu estou bem, contudo e, principalmente, áreas nas quais eu preciso melhorar, crescer aperfeiçoar. Vejamos, por exemplo, uma estrada que, com o tempo, necessita de reparos, de nova sinalização e, até mesmo, ter seu revestimento arrancado para ser refeito. Este é o real sentido da renovação: a poda que retira as folhas mortas e os galhos infrutíferos, que roubam a seiva que alimenta os ramos sudáveis e atrapalham seu crescimento. Jesus tratou sobre isso ao dizer que, mesmo os ramos que estão nele e são produtivos, passam pelo processo da poda (Jo 15.2b).
          Retomando as palavras de Paulo aos Romanos, ele fala de "transformação pela renovação" do nosso entendimento. E, como vimos, isso tem uma consequência extremamente relevante para nós, para a igreja e para o mundo: temos a oportunidade (e o privilégio) de experimentar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Todavia, apesar desse privilégio, que nos aproxima do Senhor, refletir em bençãos para nossa vida, há um custo, um preço a ser pago, que nem todos querem pagar: o preço do discipulado.
          Ser discípulo implica em ser como seu Senhor, levar a cruz, renunciar a si mesmo, permanecer na Palavra (cf. Mt 10.25; Lc 14.27,33; Jo 8.31). E estas são atitudes que exigem esforço, exigem uma morte e um renascimento diários, pelo profundo desejo de ser como Ele, andar e estar com Ele continuamente.
          Envolve um constante despir de minhas convicções, um abrir mão de meus projetos e a disposição de aprender cada lição que Ele me propõe.