sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

ATIVISMO 2


No primeiro artigo da série sobre ativismo na igreja, procurei esclarecer a abordagem que daríamos ao tema e introduzimos alguns dos fatos que estavam provocando e caracterizando esta prática, não só no contexto eclesiástico, contudo no âmbito da sociedade.
Relembro que a intenção é tratar sobre a qualidade de vida espiritual que estamos vivendo ou que desejamos para nós, a partir de nossas atividades e relacionamentos na igreja.
Vimos que ideias do tipo "a obra não pode parar", estamos trabalhando para o avanço do Reino de Deus", "o trabalho do crente é como andar de bicicleta: se parar cai", entre outras. E estas afirmações têm sido interpretadas de forma errônea, causando uma sensação terrível de que, se não nos envolvermos com o maior número de atividades possível, o Reino não será implantado na terra e seremos "mais do que inúteis", condenados implacavelmente ao inferno. Lêdo engano!
Não podemos esquecer que o maior interessado no desenvolvimento da igreja e na difusão do Evangelho é o Senhor Jesus. É pura soberba humana acreditar que, o fato de participarmos de "cento e duas" ações diferentes na igreja, as coisas serão diferentes, melhores e mais rápidas.
Deus não trabalha segundo a lógica humana! Nossa matemática é diferente daquela que o Senhor utiliza: nem sempre quem trabalha mais, produz mais. Aliás estes são dois conceitos que precisam ser analisados: trabalho, enquanto atividade desenvolvida, e produção, como resultado alcançado.
Há pessoas que trabalham em múltiplas áreas da igreja, dedicam quase que a totalidade de seu tempo para o serviço eclesiástico, todavia sua produtividade para os reais interesses divinos é baixíssima. Logo, não é unicamente o quantitativo que conta, entretanto a qualidade daquilo que fazemos para Deus.
O excesso de atividades provoca consequências que afetam a qualidade de nosso trabalho, das quais selecionamos algumas:
1) Rouba-nos tempo importante para a oração e leitura da Bíblia - Não podemos desenvolver qualquer projeto, sem conhecer seus detalhes, sem saber o que realmente deve ser feito, sem ouvir as orientações de Seu Autor e aprender os princípios e normas para sua realização.
2)Não conseguimos aprofundamento naquilo que estamos fazendo - Em razão de focarmos múltiplas áreas, perdemos o poder de nos concentrar adequadamente naquilo que é importante e no que fomos chamados a fazer. Ficamos sempre na superfície, sem mergulhar mais profundamente nos conteúdos teóricos e na prática do trabalho que deveríamos realizar, esquecendo detalhes fundamentais, imprescindíveis ao sucesso do projeto.
3) Em lugar de colaboradores, tornamo-nos empecilhos - Quando recebemos o chamado do Senhor para determinada tarefa, somos capacitados por Ele com as ferramentas espirituais necessárias e somos, também, orientados acerca da qualificação que devemos obter. Contudo, quando nos envolvemos naquilo para o qual o Senhor não nos chamou (e o chamado é claro, isto é, não deixa dúvidas), atrapalhamos aqueles que foram verdadeiramente comissionados por Deus para aquele trabalho e que receberam dEle a orientação precisa à sua realização.
4) Sofremos um desgaste inútil e perigoso - Colocamos nossa saúde física, psicológica e espiritual em risco. O excesso de atividades consome nossas energias desnecessariamente, impedindo que canalizemos nosso vigor para aquilo que deveríamos fazer. Assim, ficamos expostos ao stress, à fadiga física e mental, às doenças psicossomáticas, cardiovasculares e, até mesmo, outras de muito maior gravidade, que nos fazem perder rendimento e até parar.
5) Nossos relacionamentos começam a desmoronar - Com todo o nosso tempo desviado para o corre-correde tantas "obrigações", começamos a descuidar de nossos relacionamentos: não dedicamos a devida atenção ao cônjuge, aos filhos, aos demais parentes, aos amigos e (parece incrível!) aos irmãos da igreja, que pensamos estar servindo como nosso trabalho.
É raro encontrar pessoas que, sobrecarregadas na vida eclesiástica, não venham a sofrer problemas de relacionamento (se é que tais pessoas existem!). Para uns o casamento torna-se uma "relação de fachada", sem graça, sem paixão, onde o diálogo perde o tom de intimidade, torna-se superficial e monótono; o sexo (quando ocorre) é mais uma obrigação formal do que prazer, uma relação sem cor e criatividade, altamente cansativa e frustrante; não há espaço para sonhar, para planejar ou viver juntos, coisas que digam respeito unicamente ao casal, à família: tudo é a igreja, o trabalho, a obra.
Para outras pessoas o conflito com os filhos agrava-se dia-a-dia, onde pais e filhos são estranhos que convivem debaixo de um mesmo teto. Não há espaço para momentos de aprofundamento da amizade entre eles, não há tempo para atividades conjuntas, não há cumplicidade. Muitas vezes, a relação pastor-ovelha ou líder-liderado, substitui o convívio pai/mãe-filho.
Há, ainda, os que se veem solitários, sem ter com quem compartilhar momentos alegres ou tristes, com quem dividir as emoções e que convivem com um sentimento similar à saudade dos "entes queridos que partiram". É difícil imaginar que falamos tanto de comunhão, de fraternidade e união, no entanto, não encontramos tempo para nossos parentes e amigos, muitos dos quais, não conhecem o amor de Deus e presisaríam de nosso testemunho. Porque não temos tempo para desenvolver as relações de parentesco ou de amizade, para ouvir as pessoas ou simplesmente abraçá-las, a igreja, aos seus olhos, passa a ser vista como vilã, uma ladra que roubou-lhes o convívio com alguém que lhes era precioso, importante, que era alvo do seu amor e carinho. Logo, como essas pessoas poderão ter um coração aberto para receber a Cristo como seu Senhor e Salvador e ter comunhão com a igreja que Ele comprou com Seu sangue? Acredito que será muito difícil convencê-las do contrário e, muitos que encontrarem Jesus, já chegarão à igreja com o propósito do descompromisso com a obra, pois entendem que isso os impedirá de abandonar aqueles que amam.
É preciso lembrar: o importante não é o quanto fazemos, mas as motivações para o trabalho e a qualidade daquilo que realizamos.









domingo, 17 de janeiro de 2010

ATIVISMO 1

Este é o primeiro de uma série de artigos que pretendemos publicar acerca de um tema bastante frequente nos mais variados estudos e discussões sobre a contemporaneidade, a qualidade de vida vem se tornando um alvo bastante perseguido pela maioria das pessoas.
Mas será que qualidade de vida é algo meramente físico? Não seria uma situação que demanda ações intelectuais e do espírito?
Parei para pensar sobre isso, a partir do momento em que alguns projetos nos quais estou envolvido começaram a parecer inviáveis ou, pelo menos, merecedores de uma avaliação sobre o que estaríamos fazendo, considerando que um desses trabalhos é desenvolvido por uma equipe.
Não raro, em nosso meio cristão, as pessoas atribuem os obstáculos à ação diabólica, à falta de oração e uma série de outras “justificativas espirituais” que, não raro, utilizamos como explicações para erros que cometemos com muita frequência. Entre esses erros, gostaria de ressaltar um que tem atingido grande parcela de nossas igrejas: o ativismo.
Inicialmente, vale aclarar que o ativismo que estou abordando neste artigo, não consiste da defesa de uma causa específica ou atuação intensa em determinado setor da vida social. Trata-se da promoção exagerada de atividades na igreja, um fluxo intenso de eventos que traz sérias consequências para a espiritualidade e para o cotidiano dos crentes.
São inúmeros congressos, seminários, aniversários, reuniões, trabalhos de evangelismo, ensaios e cursos, que somados aos cultos semanais, às reuniões de oração e à escola dominical, consomem boa parte do tempo, do vigor e por que não dizer, da liberdade e da paciência dos fiéis, quase sempre produzindo um efeito diverso daquele para o qual cada programação foi elaborada. Muitas vezes, participamos dos eventos, mas não cultuamos ao Senhor, não adoramos a Deus, não aproveitamos sequer, a metade do que poderíamos. Contudo, continuamos correndo de um lado para o outro, num malabarismo sem fim, tentando equilibrar a multiplicidade de coisas que “precisamos” (será?) fazer.
Reproduzimos em nossas igrejas o azáfama no qual vive a sociedade pós-moderna em sua velocidade crescente, que favorece a efemeridade dos valores e conceitos, o cansaço e a superficialidade. A revolução da informática, o desenvolvimento crescente dos meios de comunicação e de transporte, provocaram um fenômeno que se pode chamar de compressão espaço-tempo, isto é, alcançamos lugares cada vez mais distantes em um tempo cada vez menor. Assim, o fluxo de informações que nos alcança é tão intenso, que não conseguimos absorvê-las em sua totalidade e não nos permitimos aprofundar quaisquer assuntos que tomamos conhecimento.
O ativismo é uma realidade tangível e de sérias consequências para a qualidade de vida da igreja, urgindo que se examine a ideia de que “a obra não pode parar”, pois tem tomado uma conotação de “cascata de eventos” em lugar de apresentar-se como desenvolvimento espiritual contínuo.
Esta é a análise que pretendemos desenvolver nos próximos artigos e que esperamos, possa contribuir para uma vida mais saudável espiritual e fisicamente para o povo de Deus.