Nossa última
postagem dentro desta série que trata sobre o fenômeno do desigrejamento que
vem afetando a sociedade brasileira, aborda a crise identitária e espiritual
que atinge a Igreja de forma geral.
A QUESTÃO DA
IDENTIDADE
Como verificamos nas postagens anteriores, as perspectivas de rejeição às
metanarrativas, aos sistemas absolutos de valores e o desconstrucionismo que
nos conduziram a um tempo regido pela hermenêutica, possibilitando que os
leitores se apropriem dos textos como se fossem sua propriedade e construam
suas próprias interpretações e conceitos. Desta feita, instaura-se o
relativismo ético e a “liquidez” conceitual, que fomentam uma falsa sensação de
liberdade, na qual a excessiva pluralidade e fragmentação das ideias conduz ao
conflito, bem como, à falta de referências mais consistentes.
Essa é a matriz da crise existencial que alcança um contingente cada vez
maior de pessoas, em especial, quando se deparam com questões que se mostram
duais, como, vida e morte, justiça e injustiça, bem e mal, fé e ciência, bem
como, outras temáticas que se mostram de igual modo candentes na reflexão de
caráter filosófico e espiritual, a exemplo de Deus, fé, sofrimento, amor,
sexualidade, etc.
O que percebemos é a relação direta que tais assuntos mantém naturalmente
com o universo teológico-eclesiástico, considerando que são aspectos relevantes
na reflexão acerca da espiritualidade humana e na busca metafísica por
respostas a questionamentos que se referem a nossa origem, ao que somos, ao
sentido ou finalidade de nossa existência, a nossa relação com os outros, com o
universo a nossa volta e para onde estamos indo. Não há como desvincular tais
coisas da subjetividade e, consequentemente, do pensamento humano.
Entretanto, acreditamos que é lógico o entendimento que a crise que
aflige o indivíduo, reflete nas instituições estruturantes de sua identidade e,
estas, por sua vez, refletem sua crise identitária nos indivíduos que alcançam,
dentro de um acelerado processo de mudanças. Porém, é necessário que tratemos
inicialmente do constructo identidade para aclarar nossas ponderações. E,
seguindo esta ótica, um conceito para identidade, a grosso modo, seria o de
conjunto de caracteres próprios e exclusivos de um ente animado ou não, através
dos quais podemos diferenciá-lo ou incluí-lo dentre os demais de sua mesma
natureza e espécie, ou de outros diversos daquele considerado.
De acordo com Bauman (2005), as comunidades são as entidades que definem
as identidades e mostram-se de dois tipos: as comunidades de vida e de destino,
onde os membros vivem juntos em absoluta ligação, e as comunidades de ideias,
nas quais os membros mantêm-se unidos por uma variedade de princípios. Bauman
propõe que:
A questão da identidade só surge com a exposição a “comunidades” da
segunda categoria – e apenas porque existe mais de uma ideia para evocar e
manter unida a “comunidade fundida por ideias” a que se é exposto em nosso
mundo de diversidades e policultural. É porque existem tantas dessas ideias e
princípios em torno dos quais se desenvolvem essas “comunidades de indivíduos
que acreditam” que é preciso comparar, fazer escolhas, fazê-las repetidamente,
reconsiderar escolhas já feitas em outras ocasiões, tentar conciliar demandas
contraditórias e frequentemente incompatíveis. (BAUMAN, 2005, p. 17)
A partir dessas considerações de
Bauman, inferimos que é inviável o estabelecimento de uma identidade cristã
plena, sem a inserção em uma “comunidade” na qual possamos interagir com essa
diversidade. E este processo de interação, promove um estado que, segundo os
comentários de Faria e Souza (2013) acerca das proposições teóricas de Claude
Dubar:
(...) constitui
um movimento de tensão permanente entre os atos de atribuição (que correspondem
ao que os outros dizem ao sujeito que ele é e que o autor denomina de
identidades virtuais) e os atos de pertença (em que o sujeito se identifica com
as atribuições recebidas e adere às identificações atribuídas). Enquanto a
atribuição corresponde à identidade para o outro, a pertença indica a
identidade para si, e o movimento de tensão se caracteriza, justamente, pela
oposição entre o que esperam que o sujeito assuma e seja e o desejo do próprio
sujeito em ser e assumir determinadas identidades. Logo, o que está no cerne do
processo de constituição identitária, segundo o autor, é a identificação ou não
identificação com as atribuições que são sempre do outro, visto que esse
processo só é possível no âmbito da socialização. (FARIA e SOUZA, 2013, s.p.)
Para Dubar (1997), a síntese da
constituição da identidade reside na ocorrência de dois processos: um de
caráter relacional, o qual trata da identidade para o outro, com transações de
caráter mais objetivo e genérico e, outro de cunho biográfico, que volta-se à
identidade para si, cujas transações mostram-se mais subjetivas, compreendendo
as identidades herdadas e identidades visadas. Faria e Souza comentam que “a
identidade social é marcada pela dualidade entre esses dois processos” (op.
cit., s.p.).
Retomando, portanto, a questão identidade
e chamando a atenção para a ideia da crescente velocidade que caracteriza a “liquidez”
das formas contemporâneas, retomamos o pensamento de Bauman, ao considerar que:
(...) o “pertencimento”
e a “identidade” não têm a solidez de uma rocha, não são garantidos para toda a
vida, são bastante negociáveis e revogáveis, e de que as decisões que o próprio
indivíduo toma, os caminhos que percorre, a maneira como age – e a determinação
de se manter firme a tudo isso – são fatores cruciais tanto para o
“pertencimento” quanto para a “identidade”. Em outras palavras, a ideia de “ter
uma identidade” não vai ocorrer às pessoas enquanto o “pertencimento” continuar
sendo o seu destino, uma condição sem alternativa. Só começarão a ter essa
ideia na forma de uma tarefa a ser realizada, e realizada vezes e vezes sem
conta, e não de uma só tacada. (BAUMAN, 2005, p. 17-18)
Essa afirmação nos conduz a
compreender que “ser” é mais do que “pertencer”. E essa é possivelmente a chave
para a discussão sobre a crise de identidade da Igreja.
DOIS FATOS
RELEVANTES
“Ser é mais do que pertencer”. Mas não seria essa a base na qual repousam
diversas considerações dos desigrejados, onde mais do que pertencer a uma
comunidade, o que importa é ser um bom cristão? Afinal, segundo o que muitos
alegam, Jesus Cristo não deixou qualquer forma de igreja organizada e
institucional, da qual deveríamos nos tornar membros. E além disso, os sistemas
eclesiásticos instituídos sempre buscam perpetuar suas respectivas estruturas e
a hierarquias, não permitindo que haja uma atualização ou contextualização de
suas formas, priorizando a organização, os métodos e a liturgia em lugar de
observar a direção do Espírito Santo e as necessidades reais das pessoas.
Assim, a igreja institucional tem cometido graves erros ao longo de sua
história. Ainda que esses elementos sejam incômodas verdades, existem dois fatos,
essenciais, interdependentes entre si, que precisam ser levados em conta.
O primeiro deles, reside no conceito bíblico da igreja como “corpo de
Cristo” (Rm 12.5; 1 Co 12.27) e no serviço que cada cristão desenvolve para o
Senhor. Devemos levar em conta que um membro ou órgão só tem utilidade ou só
funciona adequadamente no contexto do corpo, atendendo a finalidade para a qual
foi criado. E mesmo aqueles membros que parecem ser dispensáveis, têm sua
importância. Vejamos o exemplo da vesícula biliar.
A função da vesícula é acumular a bile produzida pelo fígado durante o
dia. A bile é um fluido que atua na digestão das gorduras ingeridas pela
pessoa. Através de estímulos produzidos pela alimentação, a vesícula se contrai
e lança a bile no intestino delgado. Quando a pessoa é submetida a uma
colecistectomia (retirada cirúrgica da vesícula biliar), perde essa capacidade
de armazenar a bile, que passa a ser liberada pelo fígado diretamente no
intestino delgado. Isso provoca uma maior intolerância à ingestão de alimentos
gordurosos, o que obriga o cirurgiado a uma mudança de dieta, sob pena de
sofrer, por exemplo, de diarreia crônica, pelo excesso de gordura consumida,
não absorvida pelo organismo e que será eliminada pelas fezes.
Para funcionar adequadamente e ser
útil, um órgão ou membro, precisa estar inserido no corpo, como um coração que
pode continuar batendo após a morte de outras partes do corpo. Para que
continue a funcionar e a ser útil, deve ser inserido em outro corpo por meio de
um transplante. Todavia, vale ressaltar, que o importante não é só o
“pertencimento” a uma comunidade cristã, mas o fato dessa inclusão nos oferecer
a oportunidade de gozar duas condições essenciais: a primeira, individualmente,
crescimento (que envolve proteção e desenvolvimento espiritual) e, a segunda,
coletivamente (porque desenvolve-se para o outro), o exercício orientado de uma
atividade estabelecida pelo Senhor – que chamamos de ministério.
Logo, pertencer meramente ao rol de membros de uma igreja, declamar seus
princípios orientadores e conhecer seu estatuto e diretrizes, não nos outorga
uma identidade cristã. Essa identidade passa a ser construída a partir do fruto
que produzimos ou, conforme o pensamento de Bauman, a partir da “tarefa a ser
realizada”. Foi isso que Jesus Cristo disse aos seus discípulos no Sermão do
Monte, ao afirmar:
Assim,
toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a
árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a
árvore má dar frutos bons. Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e
lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis. (Mt 7.17-20)
Essas reflexões nos permitem observar que parte da crise identitária que
se alastra no âmbito eclesiástico tem um caráter individual, considerando que
muitas pessoas estão perdidas dentro da própria casa, ou seja, não sabem o que,
como e quando fazer, para onde ir e com quem podem contar, numa espécie de
“cada um por si e Deus por todos”. Falta-lhes, orientação quanto ao exercício
de seus dons e talentos de forma produtiva para o Reino e que produza
verdadeira satisfação espiritual para si e para a Igreja. Não sabem (ou não
querem saber) que papel deveriam estar exercendo na obra, afim de serem “menos
inúteis” (Lc 17.10). E isto ocorre por três motivos principais: desinteresse
pessoal, negligência dos líderes ou conveniência de pessoas e/ou grupos no
ambiente eclesiástico.
Quando não sabemos nosso lugar, nossa função e como realizá-la, perdemos
importantes referências para nossa jornada espiritual. Ficamos à mercê daquilo
que os outros nos dizem que somos, que devemos ser ou o que é pior, começamos a
construir nosso próprio Evangelho e nossa visão individualizada de
cristianismo.
Se parte da crise de identidade que alcança o meio eclesiástico reside na
individualidade das pessoas, por outro lado, existe um componente desta mesma
crise que repousa sobre o aspecto coletivo da igreja. E, desta feita, somos
levados ao segundo fato que julgamos relevante considerar: a ideia de missão.
Ao falarmos de missão, não estamos nos limitando a “romântica” visão que
alguns detém quanto à pregação do Evangelho que, não raro, descamba para a
prática de um evangelismo de fim de semana incipiente e inócuo ou para o
pseudo-heroísmo de alguns que, sem conhecimento e preparo real sobre o trabalho
missionário, lançam-se de qualquer jeito ao campo. Fazemos alusão ao exercício
cotidiano, integral e multifacetado da determinação dada por Jesus de ir, pregar
e discipular gente de todas as nações, o que acarreta uma série de implicações.
Em primeiro lugar, implica em uma igreja atuante, isto é, que não se
fecha em si mesma, dentro de seus templos, eventos e estrutura, pesada,
desconectada e, sobretudo, falta de altruísmo.
A Igreja precisa sair do marasmo espiritual, que enrijece seus membros e
a impede de avançar sobre os territórios dominados pelo inimigo, tingidos pelo pecado.
Precisa abrir mão dos preconceitos escondidos sob os tapetes e atrás das
portas dos gabinetes, abrindo portas e janelas, para ouvir a voz dos perdidos, o
grito de socorro do mundo com suas mazelas e oferecer a transformação e a paz
que só o Senhor Jesus pode operar.
Precisa assumir de forma consciente seu papel de embaixada do Reino na
terra, a missão que lhe foi conferida, qualificando e enviando aqueles que Deus
chamou e capacitou.
Em segundo lugar, implica em uma Igreja contextualizada, ou seja, que
está atenta à realidade contemporânea, aos desafios de toda ordem a sua volta e
pronta para discutir alternativas para esses desafios.
Em nome de uma falsa ortodoxia, de uma paralisante tradição, criamos “fantasias”,
verdadeiros contos da carochinha na espiritualidade, onde apresentamos um mundo
mau, dominado por demônios e seres infernais que se contrapõem às “forças
celestiais”, representadas pela Igreja, numa permanente luta pelo domínio das
almas humanas.
Não desprezando a noção de batalha espiritual, que é bíblica e real (v. a
Carta aos Efésios, capítulo 6, vv. 10 a 18), é preciso parar com essa
mentalidade “hollywoodiana” que, na verdade, só tem um propósito: impedir
qualquer aproximação dos crentes com qualquer elemento cultural exterior à
Igreja.
Graças ao despreparo de muita gente que está na Igreja, principalmente,
líderes, não se consegue fazer a distinção entre os elementos culturais e
estéticos específicos da sociedade onde estamos inseridos e da qual somos
naturais, e o sistema filosófico-espiritual mundano que influi nesta mesma
sociedade. E isso é tão sério que muitos líderes ainda olham com desconfiança
para aqueles que ingressam nas universidades, vão para o seminário teológico ou
gostam de atividades mais voltadas às artes, como a poesia, a música, a dança,
entre outras. Tais líderes parecem acreditar que quaisquer outras atividades
que conduzam à reflexão, bem como, à admiração e enlevo pelas formas e pelo
movimento, que não envolva diretamente a Bíblia ou os credos da Igreja, são “impuras”,
para não dizer contaminadas pelas hostes infernais. Contudo, em sua tentativa
de “lutar e manter a pureza espiritual da Igreja”, acatam que produções
artísticas “gospel” tenham a “cara do mundo”, incluindo o caráter, a conduta e
a vida de muitos de seus produtores e artistas.
Não podemos, ou melhor, não devemos nos isolar de tudo como se fôssemos “et’s”,
ou passar a viver dentro de uma bolha, pois nossa missão é alcançar os que
estão lá fora, aqueles que convivem conosco nos ambientes onde obrigatoriamente
devemos ir. A necessidade real que se apresenta diante do contexto que temos
apresentado neste artigo, reside na preparação dos crentes no conhecimento da
Palavra, na santificação e na busca por discernimento, quando poderemos separar
o que é bom, o que é saudável, daquilo que é indevido, que é insalubre
espiritualmente. Podemos viver em santidade e servindo ao Senhor, sem que deixemos
de ser “antenados” e sem que não possamos nos deleitar com elementos prazerosos
que, enfim, foram deixados por Deus para nós, como a boa arte em geral.
Assim, a Igreja precisa sair do casulo da soberba, que fomenta a
inflexibilidade e a intolerância, o que não implica em abrir mão dos princípios
bíblicos e de suas crenças. Isto reflete em diálogo, em participação e em
oportunidades.
Precisa estar conectada ao conhecimento, às inovações, às perspectivas
sociais, econômicas, culturais e políticas futuras, acompanhando o ritmo das
transformações no mundo, sem perder o lastro espiritual dos princípios eternos
que lhe foram legados por Deus, através de sua Palavra.
Em terceiro lugar, implica em uma Igreja solidária, que atente
desinteressadamente para as carências das pessoas, sejam de ordem espiritual,
sejam de natureza material, abraçando o conceito de missão integral como forma
de materializar as propostas do evangelho de Jesus Cristo.
A Igreja precisa manter viva a perspectiva do socorro ao necessitado, com
amor e desprendimento. Um socorro que alcance os “domésticos da fé”, porém que
ultrapasse os muros eclesiásticos, espraiando-se onde houver dor, lágrima,
sofrimento (Gl 6.10).
Em quarto lugar, implica em uma Igreja que lute por aquilo que crê,
através de uma fé sólida, através do conhecimento das Escrituras e sua
contextualização, de argumentos adequadamente fundamentados e que desperte o
interesse das demais pessoas.
A Igreja precisa aprofundar sua reflexão sobre as Escrituras, através de
seu estudo sistemático, da revelação espiritual pelo quebrantamento, pela
oração e pelo jejum, passando a exercitar seus princípios no cotidiano de suas
atividades.
Finalmente, em quinto lugar, implica em uma Igreja que busque, preserve e
considere a Unidade, acima de todas as diferenças humanas, doutrinárias e
outras infrutíferas para a consolidação do Reino de Deus entre os homens.
A Igreja precisa viver a realidade da unicidade da Noiva do Cordeiro,
independente do entendimento díspar que alguém possa ter. Precisamos ter em
mente que existem doutrinas fundamentais à identidade da Igreja cristã
evangélica, comuns a todas as comunidades que professam essa fé, e outras
consideradas secundárias, que podem variar de denominação para denominação.
A unidade promove a força, pois, ao contrário “(...) todo o reino
dividido contra si mesmo é devastado;
e toda a cidade, ou casa, dividida contra si mesma não subsistirá.” (Mt 12.25).
A unidade atrai porque dá a entender que, apesar das possíveis diferenças
existentes entre essa ou aquela comunidade, as portas da inclusão e da
participação estão abertas. Todos e cada um têm seu espaço e voz. Há lugar para
a harmonia, para o entendimento, para a paz e para o diálogo. Isso faz
diferença em um mundo fragmentado, excludente e egoísta.
Essas implicações que decorrem da missão bíblica da Igreja, constituem
traços elementares da identidade eclesiástica que não podem ser perdidas, pois
a salvação constitui-se uma mudança de identidade, onde passamos a ser “novas
criaturas” (2 Co 5.17) e somos restaurados em nossa imagem e semelhança com o
Criador. Logo, nosso discurso, nossa cultura, nossa postura, nossas
perspectivas, enfim, nossa cosmovisão, deve se manter firme sobre os princípios
basilares da fé cristã, consignados na Bíblia Sagrada.
Finalmente, podemos entender que a identidade é algo transitório, onde
somos submetidos a um processo contínuo de metamorfose, porquanto vai sendo construída
ao longo do tempo, conforme somos edificados e amadurecemos por meio de nossas
experiências e do conhecimento que adquirimos, como podemos inferir do que nos
ensina o livro de Provérbios, quando registra que “a vereda dos justos é como a
luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito.” (Pv 4.18).
Entretanto, existem princípios que são permanentes, têm caráter absoluto, os
quais identificam o Corpo de Cristo, estabelecidos por Deus e confirmados no
Evangelho de Jesus Cristo. São esses fundamentos que devem reger a vida e os
propósitos da Igreja do Senhor e de todos aqueles que a integram.
ENFIM...
Nomear pessoas de desigrejadas, como
um adjetivo que as coloca em uma categoria inferior, sem que haja uma análise
mais detida sobre os motivos que provocaram seu afastamento da igreja
institucional, como afirmamos inicialmente, parece um tanto precipitado.
Cremos que opinar sobre uma temática
tão complexa requer uma reflexão sobre essa crise que alcança as pessoas de uma
forma geral. Estamos sob pressão cotidianamente, em todas as áreas de nossa
vida, cercados de conceitos que mudam, modelos que se transformam, inovações
vocabulares, informacionais e científico-tecnológicas. Somos exigidos em ser
como na música de Raul Seixas, uma “metamorfose ambulante”. Este é um mundo de
incertezas, repleto de pessoas que buscam respostas e a segurança de uma
certeza que seja. Como encontrar a certeza? E acreditamos que certeza, neste
caso, pode ser lida como verdade. Então, como encontrar a verdade? Ou ainda, o
que é a verdade?
Isso é o que conduz muita gente à Igreja (ou para longe dela), ou seja, a
busca pela verdade.
Jesus afirmou (e nós cremos) que Ele é a verdade (Jo 14.6). Mas será que
a Igreja contemporânea tem conseguido repassar essa mensagem de forma
convincente? Será que temos apresentado essa verdade integralmente, cumprindo
nossa missão, de maneira que as pessoas possam crer nisso e assim, alcançar
respostas para suas inquietações?
Acreditamos que quando alguém se desigreja, desconsiderando os casos nos
quais a pessoa está definitivamente convencida da não relevância de
congregar-se, desacreditada de qualquer sistema eclesiástico por falta de
conversão ou por um espírito de permanente rebeldia, houve uma falha na
formação e/ou desenvolvimento do caráter cristão do desigrejado, e isto é uma
questão de discipulado, cuja responsabilidade é não só da liderança
eclesiástica: inclui todo o Corpo.
Contudo, esse não é um defeito isolado de outros fatores, pois o discipulado
é parte fundamental da missão da Igreja e do seu exercício cotidiano. Nossa
visão é que a não observância de uma renovação permanente, de uma busca
constante por aprimorar a identidade da Igreja como agência do Reino de Deus na
terra tem produzido esse exército de soldados, feridos em nome de Deus.
Queremos fechar essa reflexão com a ideia de que não somos cristãos porque pertencemos a uma igreja: pertencemos à Igreja porque somos cristãos! Entretanto, para que sejamos cristãos verdadeiros e exercitemos essa condição, precisamos estar no contexto da Igreja, pois como afirmou o Pr. Renato Vargens, “a Igreja é uma instituição de origem divina, e é bom que aqueles que pensam ser possível desenvolver uma fé longe dela lembrem-se de que foi criada por Deus e para a glória do seu nome” (VARGENS, 2013, p. 32).
Queremos fechar essa reflexão com a ideia de que não somos cristãos porque pertencemos a uma igreja: pertencemos à Igreja porque somos cristãos! Entretanto, para que sejamos cristãos verdadeiros e exercitemos essa condição, precisamos estar no contexto da Igreja, pois como afirmou o Pr. Renato Vargens, “a Igreja é uma instituição de origem divina, e é bom que aqueles que pensam ser possível desenvolver uma fé longe dela lembrem-se de que foi criada por Deus e para a glória do seu nome” (VARGENS, 2013, p. 32).
BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista
a Benedetto Vecchi. Tradução Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Ed., 2005.
BÍBLIA. Português.
Bíblia de Estudo Palavras-Chave Hebraico
e Grego. 3. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012. Texto Bíblico: Almeida Revista e
Corrigida, 4. ed., 2009. Sociedade Bíblica Brasileira.
DUBAR, Claude. A socialização:
construção das identidades sociais e profissionais. São Paulo: Martins Fontes,
2005.
FARIA, Ederson de; SOUZA,
Vera Lúcia Trevisan de. Sobre o conceito de identidade: apropriações em estudos sobre formação de professores. Psicol. Esc.
Educ. (Impr.), Maringá, v. 15, n. 1, jun. 2011 .
Disponível em
.
Acesso em 23 dez. 2013.
VARGENS, Renato. A noiva de Cristo está falida? Cristianismo Hoje. Niterói, ano 7, ed.
37, p. 31-32, out/nov, 2013.
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