segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

DESIGREJADOS: POR QUE? (PARTE 1)



Uma preocupação que vem ganhando notoriedade no meio evangélico brasileiro atual espelha-se na expressão “o número de ‘desigrejados’ vem crescendo no Brasil”, fenômeno que, segundo os indícios apresentados pela estatísticas constantes em diversos veículos da mídia e publicações nas prateleiras das livrarias cristãs, parece agravar-se com o passar do tempo.

      Diante desse quadro e de tantos comentários esboçados por pastores, líderes cristãos, teólogos, escritores e membros das igrejas, paramos para refletir sobre o assunto e anotar algumas considerações sobre o fato, partindo desse neologismo no vernáculo eclesiástico cristão evangélico, ou seja, o que é um “desigrejado”? Seria apenas uma pessoa que não pertence ao rol de membros de qualquer igreja? Ou haveria outras implicações neste termo?

     De forma resumida, os “desigrejados” compõem um grupo que, essencialmente, apresenta dois tipos de pessoas: aqueles que decepcionados com a igreja institucional, buscam ser cristãos sem manter ligação com qualquer comunidade eclesiástica e, outros que , não frequentando qualquer igreja por razões diversas, passaram a defender publicamente que a igreja organizada fracassou e está falida, a plena possibilidade de um cristianismo fora dessas entidades, inclusive que é necessário que o crente saia do contexto eclesiástico para ter um encontro com Deus (LOPES, 2013).

       Entretanto, parece-nos que para a maioria dos crentes, a questão conceitual do termo “desigrejado” mantem uma relação direta com a visão que cada um possui acerca do afastamento de alguém da igreja, ou com opiniões que são repassadas por líderes e pessoas de expressão, sem que haja uma filtragem crítica, fundada em argumentos mais consistentes, o que é perigoso, pois estamos lidando com a espiritualidade das pessoas. É perigoso (e impróprio) julgar a atitude alheia, sem que tenhamos efetuado uma anamnese de todo esse processo de afastamento.

   É fácil rotular pessoas de “rebeldes”, “mundanas”, “descompromissadas”, “carnais”, “manhosas”, “fracas espiritualmente”, “arrogantes”, entre outros adjetivos, atentando unicamente para uma pseudo-espiritualidade, construída com base em sistemas eclesiásticos, dogmas, costumes humanos e supostas revelações. Estar abrigado em uma casamata de convicções, nem sempre coerentes ou bíblicas, passando a formatar um “grupo de exclusão” e a criticar aqueles que são condenados a integrá-lo, é fácil e só agrava o problema.

      Vamos, então, defender o fenômeno do “desigrejamento” e acreditar que todos os que se encontram nessa situação são vítimas das instituições às quais pertenciam?

Não! A proposta deste texto não consiste em defender ou atacar o afastamento de quem quer que seja das igrejas e, tampouco, criticar esse ou aquele sistema eclesiástico. A ideia é fomentar uma reflexão mais equilibrada sobre o fenômeno aqui abordado, à semelhança do que têm feito alguns teólogos e pensadores do evangelicalismo nacional. Como exemplo, podemos citar o Rev. Augustus Nicodemus Lopes que, em artigo publicado na internet, elenca um rol dos principais insumos para o desencanto de alguns com a igreja institucional e organizada, os quais envolveriam:



O surgimento de milhares de denominações evangélicas, o poderio apostólico de igrejas neopentecostais, a institucionalização e secularização das denominações históricas, a profissionalização do ministério pastoral, a busca de diplomas teológicos reconhecidos pelo estado, a variedade infindável de métodos de crescimento de igrejas, de sucesso pastoral, os escândalos ocorridos nas igrejas, a falta de crescimento das igrejas tradicionais, o fracasso das igrejas emergentes (...) (LOPES, 2013, s.p.)



          Acreditamos, que muitos desses fatores, de forma um tanto sucinta, podem ser classificados como consequências de dois fenômenos mais amplos, de ordem cultural, sociológica  e filosófica, os quais consideramos essenciais para a análise que pretendemos provocar: o movimento contemporâneo de construção e, sobretudo, de desconstrução de conceitos considerados essenciais à formação identitária e a qualidade da espiritualidade e do Evangelho vivenciado por muitas igrejas.

      Dada a abrangência desses temas, publicaremos nossas considerações em mais de uma postagem, na expectativa que os amados leitores nos acompanhem, opinem e discutam essas ideias, compartilhando conosco seus pensamentos.  

REFERÊNCIAS 



LOPES, Augustus Nicodemus Gomes. Os desigrejados. Disponível em: http://centralizadosemcristo.blogspot.com.br/2013/11/os-desigrejados.html. Acesso em: 06 dez 2013.


 

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