Uma preocupação que vem ganhando notoriedade no meio
evangélico brasileiro atual espelha-se na expressão “o número de ‘desigrejados’
vem crescendo no Brasil”, fenômeno que, segundo os indícios apresentados pela
estatísticas constantes em diversos veículos da mídia e publicações nas
prateleiras das livrarias cristãs, parece agravar-se com o passar do tempo.
Diante desse quadro e de
tantos comentários esboçados por pastores, líderes cristãos, teólogos,
escritores e membros das igrejas, paramos para refletir sobre o assunto e anotar
algumas considerações sobre o fato, partindo desse neologismo no vernáculo eclesiástico
cristão evangélico, ou seja, o que é um “desigrejado”? Seria apenas uma pessoa
que não pertence ao rol de membros de qualquer igreja? Ou haveria outras
implicações neste termo?
De forma resumida, os “desigrejados”
compõem um grupo que, essencialmente, apresenta dois tipos de pessoas: aqueles
que decepcionados com a igreja institucional, buscam ser cristãos sem manter
ligação com qualquer comunidade eclesiástica e, outros que , não frequentando
qualquer igreja por razões diversas, passaram a defender publicamente que a
igreja organizada fracassou e está falida, a plena possibilidade de um
cristianismo fora dessas entidades, inclusive que é necessário que o crente
saia do contexto eclesiástico para ter um encontro com Deus (LOPES, 2013).
Entretanto, parece-nos
que para a maioria dos crentes, a questão conceitual do termo “desigrejado” mantem
uma relação direta com a visão que cada um possui acerca do afastamento de
alguém da igreja, ou com opiniões que são repassadas por líderes e pessoas de
expressão, sem que haja uma filtragem crítica, fundada em argumentos mais
consistentes, o que é perigoso, pois estamos lidando com a espiritualidade das
pessoas. É perigoso (e impróprio) julgar a atitude alheia, sem que tenhamos
efetuado uma anamnese de todo esse processo de afastamento.
É fácil rotular pessoas
de “rebeldes”, “mundanas”, “descompromissadas”, “carnais”, “manhosas”, “fracas
espiritualmente”, “arrogantes”, entre outros adjetivos, atentando unicamente
para uma pseudo-espiritualidade, construída com base em sistemas eclesiásticos,
dogmas, costumes humanos e supostas revelações. Estar abrigado em uma casamata
de convicções, nem sempre coerentes ou bíblicas, passando a formatar um “grupo
de exclusão” e a criticar aqueles que são condenados a integrá-lo, é fácil e só
agrava o problema.
Vamos, então, defender o
fenômeno do “desigrejamento” e acreditar que todos os que se encontram nessa
situação são vítimas das instituições às quais pertenciam?
Não! A proposta deste texto não consiste em defender
ou atacar o afastamento de quem quer que seja das igrejas e, tampouco, criticar
esse ou aquele sistema eclesiástico. A ideia é fomentar uma reflexão mais
equilibrada sobre o fenômeno aqui abordado, à semelhança do que têm feito
alguns teólogos e pensadores do evangelicalismo nacional. Como exemplo, podemos
citar o Rev. Augustus Nicodemus Lopes que, em artigo publicado na internet,
elenca um rol dos principais insumos para o desencanto de alguns com a igreja
institucional e organizada, os quais envolveriam:
O surgimento de milhares de
denominações evangélicas, o poderio apostólico de igrejas neopentecostais, a
institucionalização e secularização das denominações históricas, a
profissionalização do ministério pastoral, a busca de diplomas teológicos
reconhecidos pelo estado, a variedade infindável de métodos de crescimento de
igrejas, de sucesso pastoral, os escândalos ocorridos nas igrejas, a falta de
crescimento das igrejas tradicionais, o fracasso das igrejas emergentes (...)
(LOPES, 2013, s.p.)
Acreditamos, que muitos
desses fatores, de forma um tanto sucinta, podem ser classificados como
consequências de dois fenômenos mais amplos, de ordem cultural, sociológica e filosófica, os quais consideramos essenciais
para a análise que pretendemos provocar: o movimento contemporâneo de
construção e, sobretudo, de desconstrução de conceitos considerados essenciais à
formação identitária e a qualidade da espiritualidade e do Evangelho vivenciado
por muitas igrejas.
Dada a abrangência
desses temas, publicaremos nossas considerações em mais de uma postagem,
na expectativa que os amados leitores nos acompanhem, opinem e discutam essas
ideias, compartilhando conosco seus pensamentos.
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS
LOPES, Augustus Nicodemus Gomes. Os
desigrejados. Disponível em: http://centralizadosemcristo.blogspot.com.br/2013/11/os-desigrejados.html. Acesso em: 06 dez 2013.
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