terça-feira, 20 de outubro de 2009

Pela fé

"Naquele dia, quando já era tarde, disse-lhes: Passemos para o outro lado. E eles, deixando a multidão, o levaram consigo, assim como estava, no barco; e havia com ele também outros barcos. E se levantou grande tempestade de vento, e as ondas batiam dentro do barco, de modo que já se enchia. Ele, porém, estava na popa dormindo sobre a almofada; e despertaram-no, e lhe perguntaram: Mestre, não se te dá que pereçamos? E ele, levantando-se, repreendeu o vento, e disse ao mar: Cala-te, aquieta-te. E cessou o vento, e fez-se grande bonança. Então lhes perguntou: Por que sois assim tímidos? Ainda não tendes fé? Encheram-se de grande temor, e diziam uns aos outros: Quem, porventura, é este, que até o vento e o mar lhe obedecem?" Mc 4.35-41



Em geral, quando lemos ou ouvimos este texto bíblico, de imediato pensamos em milagres, no poder de Jesus para acalmar tempestades e na solução que Ele poderia dar para aquele "velho problema" que insiste em nos incomodar.
Neste caso, a ênfase encontra-se meramente na ação de Jesus, no milagre, no fato da tempestade haver cessado. E quando olhamos por esse ângulo, geralmente focamos a fraqueza e a falta de fé dos discípulos, sem nos lembrar sequer que eles eram tão humanos quanto nós e que aquela tempestade, a tribulação pela qual estavam passando, fazia parte de seu aprendizado com o Mestre.
É tremendo como esquecemos que muitas de nossas atitudes são idênticas àquelas adotadas por eles na passagem bíblica em questão. Acredito, assim, que seria interessante observarmos um pouco da conduta daqueles homens e relacioná-la a algumas questões relativas a nossa chamada.


"Passemos para a outra margem"

A determinação de Jesus era para que atravessassem o Mar da Galiléia, navegando de oeste para leste, pois ele tinha um propósito a cumprir na região de Gadara.
Devemos perceber que no início do versículo 35, o relato bíblico fala que "naquele dia, sendo já tarde (...)". Compreendo que, provavelmente, essa expressão pode significar que escurecia, já caía a noite, o que para muitos poderia representar um risco. No entanto, em nenhum momento lemos que qualquer dos discípulos tenha argumentado com o Senhor sobre a hora, sobre a segurança da travessia, sobre a possibilidade de permanecerem onde estavam e prosseguirem viagem no dia seguinte, quando houvesse luz solar. Eles simplesmente obedeceram, despediram a multidão e foram para o barco conduzindo Jesus.
Provavelmente, sua atitude de obediência, mesmo sendo correta, tenha sido resultante de uma auto-confiança, ou seja, da confiança na capacidade como navegadores, no conhecimento sobre barcos e navegação
que alguns daqueles homens possuíam como pescadores acostumados às coisas do mar. E talvez, na sua auto-confiança, na fé em seus conhecimentos náuticos, eles tenham esquecido ou desdenhado a possibilidade de uma tempestade durante a travessia.
Isso era um erro grave, porque o Mar da Galiléia, que na realidade é um lago, situa-se em uma espécie de bolsa, à época, cercado de montanhas por todos os lados. O ar quente do dia sobe e toma o lugar do ar frio das montanhas, que por ser mais pesado, desce rapidamente sobre o lago pelas ravinas, girando e rodopiando, o que agitava as águas com fortes temporais. Eles deveriam saber ou lembrar que naquela região era - e é, comum esse tipo de fenômeno.
Ainda que pareça não haver qualquer ligação com as considerações que traçamos inicialmente, é importante refletirmos sobre que motivos nos levam a fazer algo para Jesus, o porquê de fazermos isso ou aquilo. Devemos refletir, principalmente, se estamos fazendo porque Ele determinou e segue conosco, ou se estamos confiando em nossa capacidade pessoal, estamos em destaque, debaixo dos holofotes, aproveitando da fama do Mestre, como aqueles que se ufanam porque vivem pendurados em celebridades, políticos, pastores e outras pessoas de renome.
Quando confiamos em nossa capacidade, esquecemos da possibilidade concreta de enfrentarmos temporais, de atravessarmos dificuldades que querem nos arrastar num turbilhão, de termos relacionamentos difíceis de aceitarmos. Ocorre, de forma muito semelhante, quando queremos servir ao Senhor ou adorá-Lo confiando naquilo que sabemos, no que ouvimos alguém dizer ou vimos outro fazer. Acabamos por esquecer que Jesus ensinou que os verdadeiros adoradores adorarão ao Pai em espírito e em verdade. Isto significa que essa adoração precisa nascer não da emoção, não do desejo de ser visto como um adorador, mas da urgência agradar ao Senhor, de estar com Ele. Tem que ser sincera, fruto de um coração quebrantado, humilde, santo e sedento por Deus.
Confiar em si mesmo, ensoberbecer-se pela posição exercida ou pelo fato do Senhor usar-nos como instrumentos para realizar algo, resulta em formalismos, em tirania, em falsidade, em superficialidade, em imprudência e em laços para nossa alma, coisas que nos impedem de ouvir a voz de Deus e seguir o seu conselho.
Devemos sim, obedecer, passar para a outra margem, seguir pelo mar, mesmo no escuro, por confiar, por crer, por acreditar no Senhor, na Sua Palavra, na Sua Fidelidade. A palavra nos afirma em Hb 11.6 que "sem fé, é impossível agradar a Deus", em Rm 1.17 que "o justo viverá da fé" e em 2 Tm 2.13 que "se formos infiéis, Ele permanece fiel, porque não pode negar-se a Si mesmo". Precisamos crer e viver isso! Porque somente assim, crendo que todas as coisas são dEle, por Ele e para Ele, conseguiremos vencer, atravessar a tempestade, acreditar em sucesso.

"E levantou-se grande temporal de vento"

As ondas passavam por cima do barco e este já estava enchendo de água. Era uma situação desesperadora: além de estarem ameaçados de perder o barco, seu meio de sobrevivência, seu trabalho, estavam prestes a perder a própria vida.
A experiência com o mar, os anos de navegação, a confiança em seu talento para conduzir embarcações, nada disso tinha valor nesta hora, não vinha à mente daqueles homens qualquer medida eficaz que pudesse fazer o barco estabilizar e chegar em segurança na outra margem. E quando isso acontece, o medo toma conta da alma e vira desespero, o desespero afoga a esperança e quando a esperança começa a morrer, a tendência é "entregar os pontos", desistir, abandonar a luta, parar de resistir e deixar que a morte nos alcance, que o inimigo tripudie de nós.
Nesses momentos passamos a viver da amargura, do fracasso, da desilusão. Nos tornamos tristes, espinhentos, frios e intolerantes, desanimados e inertes como um cadáver, esperando para ser sepultado. Como defunto não pensa, não tem lembrança e não acredita, pois está morto, geralmente nos esquecemos que ainda resta uma esperança.
Provavelmente, a esperança esteja descansando na popa do barco; ainda que dormindo, mas está lá: serena, confiante e firme. Quando olhamos para a popa, tirando os olhos das ondas ou da água que entra no barco, podemos ver a esperança. Ainda há esperança!
No livro de Jó, capítulo 14, nos versículos de 7 a 9 está escrito:
" Porque há esperança para a árvore, que, se for cortada, ainda torne a brotar, e que não cessem os seus renovos. Ainda que envelheça a sua raiz na terra, e morra o seu tronco no pó, contudo ao cheiro das águas brotará, e lançará ramos como uma planta nova."
Os discípulos só viram o milagre quando recorreram a Jesus. Nossos talentos, nosso conhecimento, a posição que ocupamos são úteis e devem ser empregados como ferramentas que o Senhor disponibilizou para que realizemos aquilo que Ele nos mandou fazer. No entanto, nossa confiança não pode estar depositada nessas coisas: o importante é saber que Ele está conosco, que Ele segue no barco e que só Ele sabe o que deve ser feito no momento da tempestade.
A repreensão de Jesus aos discípulos chamando-lhes de "tímidos" e perguntando se ainda não tinham fé, não invalida aquilo que foi apresentado até aqui, não significa que Jesus estivesse dizendo que eles deveriam ter feito tudo, que confiassem em si. Na verdade, o Senhor transformou a ocasião em um estímulo à fé. Ele sugeriu que sua confiança estivesse depositada em Deus e que, mesmo que Ele estivesse dormindo, aqueles homens não teriam morrido.
O que Jesus queria dizer é que, se Ele havia dito que iriam para o outro lado, nada poderia impedir que eles chegassem no lugar determinado. Era necessário que eles aprendessem a confiar no poder do Senhor, para socorrê-los em momentos de crise.
Precisamos ter em mente que se assumimos uma responsabilidade, se temos uma chamada divina, se queremos servir ao Senhor com fidelidade, é necessário entender que não podemos nos sentir os donos da situação e que somente Deus é suficientemente grande para assumir o controle de tudo.
Precisamos entender que: quando assumimos o controle...Ele descansa; quando Ele assume o controle... nós descansamos.




quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Compromisso com os Propósitos do Reino de Deus

Acredito que, diante do contexto espiritual e social que vivenciamos na contemporaneidade, é fundamental que a igreja preocupe-se em discutir a questão do Reino de Deus e nosso comprometimento com ele.
O Reino de Deus é um conceito que exprime o domínio do Senhor sobre a vida de todo aquele que tomou a decisão de seguí-Lo e servi-Lo. E este é um Reino espiritual e eterno, pois inicia aqui, no coração de cada crente fiel e, no futuro, será vivido em toda a sua plenitude.
Entendo que quando o Reino verdadeiramente se estabelece na vida do homem, duas de suas principais características passam a ser plenamente visíveis: a transformação (2 Co 5.17) e a frutificação (Jo 15.1,2). Assim, não basta receber o Reino, mas deve-se estar comprometido com o Senhor do Reino e isto implica em firmar um pacto, uma aliança com Aquele que nos chamou para participar deste reinado de paz, justiça e amor. Consiste numa aliança que nos exige assumir o padrão do Senhor. E padrão fala de modelo, trata de nos conformarmos ao que Ele estabelece em Sua Palavra. Como Paulo recomendou em sua carta aos Romanos, no cap. 12, v. 1:

“Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.”

Podemos perceber que não só a entrada mas, sobretudo, a permanência no Reino de Deus, exige de cada um de nós uma transformação profunda e permanente. Logo, precisamos refletir sobre nosso compromisso com a ética do Reino e isto implica na adoção e comprometimento com novos princípios.
É impossível viver o e no Reino, se não decidirmos e assumirmos a Verdade como diretriz para nossas ações, se não pautarmos nossas atitudes pela Palavra de Deus, se não nos crucificar-nos todos os dias, fazendo morrer o “eu” e permitindo que Cristo viva em nós. Não dá para viver a proposta ética do reino deste mundo, com seus enganos, com seus prazeres efêmeros e fatais, com sua frágil construção moral, e ao mesmo tempo, estar em verdade, desfrutar da alegria, da paz, da segurança espiritual que a retidão ética e moral proposta e requerida pelo Reino de Deus.

COMPROMISSO COM OS PROPÓSITOS DO REINO

Parece-me lógico, falar de propósitos porque não haveria sentido estarmos aqui falando em compromisso, em transformação e tantas outras coisas, se não houvesse um propósito, um objetivo. E seria muito pequeno ou ainda, muito soberbo, acreditar que esse propósito estaria restrito unicamente ao fato de cada um de nós desfrutarmos do Reino na terra e, no futuro, no céu.
Deus foi muito mais além do que eu e você podemos imaginar. Seu infinito amor e seu profundo desejo de comunhão com o Homem levaram o Senhor a permitir que nós tenhamos participação na propagação do Reino e suas leis.
Quando lemos Mc 16.15 e Mt 28.19,20, encontramos mais que a expressa determinação do Senhor para que evangelizemos, ensinemos e batizemos pessoas: vemos o prazer divino de ter em cada um de nós um parceiro, um companheiro de jornada, alguém que está na trincheira ao seu lado, um com quem Ele pode contar.
O Senhor não olhou apenas para nós como miseráveis necessitados da salvação, mas também como criaturas que transformadas, capacitadas e orientadas por Ele, tornar-se-iam colaboradores preciosos e instrumentos de valor na edificação e propagação do Reino. Portanto, nós temos potencial, nós fomos chamados por Ele para edificar e difundir o Reino.
Deus quis nos presentear com a alegria de trabalharmos para o Reino, sabendo que estamos trabalhando com Ele, por Ele e para Ele. Daí, podemos dizer que nosso trabalho para o Senhor é um privilégio, uma dádiva divina, que muitos outros não podem ou não querem desfrutar.
Mas a grande questão é: qual o propósito do Reino e quais são as tarefas com as quais eu devo me comprometer?
Primeiro, é preciso entender o propósito do Reino. Na verdade, o grande e principal propósito do Reino é reconduzir a humanidade caída e pecadora, à comunhão eterna com Deus, por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor.
O homem é alvo do amor divino e este amor, de uma intensidade desconhecida para nós, chegou ao ponto do próprio Deus oferecer seu filho sobre uma cruz para nos resgatar (Jo 3.16; Rm 5.8). Jesus foi imolado como cordeiro sacrificial, para que o preço do pecado humano fosse pago. E essa verdade precisa ser anunciada aos homens sem paz, sem esperança, distantes de Deus.
A humanidade precisa ter consciência acerca do pecado no qual tem vivido, da condenação reservada aos que vivem nesse estado de pecado e da obra de justiça que Deus operou para que cada homem possa ser perdoado e reconciliado com Ele. Esta necessidade humana nos leva ao primeiro compromisso com os propósitos do Reino: o anúncio do Reino de Deus, ou seja, a evangelização.
Mas evangelizar não é unicamente um anúncio sobre a salvação: é apresentar a verdade de forma que as pessoas possam refletir e reconhecer os pecados que têmc cometido; é uma convocação para que as pessoas arrependam-se, abandonem o sistema pecaminoso de vida do mundo e voltem-se para Deus.
Evangelizar não é uma tarefa que se restringe à entrega de um folheto, em pregações bem elaboradas, em discursos bonitos ou em demonstrações de poder. Eu preciso mostrar às pessoas que aquilo eu prego, faz parte da minha vida, isto é, a Palavra anunciada deve ser uma realidade no meu cotidiano.
Ninguém vai crer na realidade do Reino de paz, justiça, alegria, esperança, se eu for contencioso, injusto, triste, desalentado, murmurador, desatento com a cidadania e com a necessidade do meu próximo. E aí eu vou cair em tudo aquilo que já foi dito sobre o Reino, meu compromisso com o Senhor e a ética do Reino.
É importante perceber que uma coisa depende da outra: se o Reino não estiver presente em mim, se eu não viver de acordo com seus princípios, será impossível convencer aos outros quanto à sua realidade e ao que eu estou pregando.
Entregar folheto e dizer que Jesus ama, salva e transforma o homem é fácil. Mas será que as pessoas irão querer ser como alguns daqueles que estão pregando para elas?
Que tipo de Evangelho você e eu estamos apresentado à pessoas com a nossa vida? Será que nós estamos atraindo as pessoas a Cristo?
O compromisso de anunciar o Reino envolve a recomendação do Senhor em Mt 5.13,14, que sejamos sal e luz para esse mundo e isso não diz respeito a somente pregar. Diz respeito ao tipo de cristão que somos.
O segundo compromisso que precisamos assumir com os propósitos do Reino é tornar conhecidas as leis que regem o Reino de Deus. Isso implica em praticar o que está em Mt 28.19,20:

“Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.”

A expressão “fazer discípulos” que Jesus empregou nesta passagem, representa que nós temos uma responsabilidade muito maior do que podemos imaginar: significa que eu e você devemos fazer com aqueles que se decidem por Ele, o mesmo que foi feito com Pedro, João, Tiago e os outros nove discípulos.
O Senhor enfatiza que temos que ensiná-los a observar todas as coisas que Ele determinou, ou seja, ensinar as pessoas a viver como Ele nos disse que deveríamos viver. Na verdade o que Jesus estava nos dizendo é algo do tipo: “peguem essas pessoas e eduquem-nas segundo a lei do Reino, ensinem a elas como serem cidadãos do Reino.”
E a Educação possui quatro pilares fundamentais:
- Aprender a aprender – precisamos aprender a ouvir a voz do Senhor, a guardar seus mandamentos e a buscá-Lo por nós mesmos.

“Faze-me saber os teus caminhos, Senhor; ensina-me as tuas veredas. Guia-me na tua verdade, e ensina-me; pois tu és o Deus da minha salvação; por ti espero o dia todo. (Sl 25.4,5)

- Aprender a fazer – precisamos aprender a cumprir aquilo que o Senhor determinou, como foi determinado e no tempo estabelecido.

“Ensina-me a fazer a tua vontade, pois tu és o meu Deus; guie-me o teu bom Espírito por terreno plano.” (Sl 143.10)

- Aprender a conviver – precisamos aprender a estabelecer uma relação de amor, fraternidade, serviço, perdão e paz com os demais integrantes do Reino.

“Revestí-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de coração compassivo, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade, suportando-vos e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outro; assim como o Senhor vos perdoou, assim fazei vós também. E, sobre tudo isto, revestí-vos do amor, que é o vínculo da perfeição. E a paz de Cristo, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos. A palavra de Cristo habite em vós ricamente, em toda a sabedoria; ensinai-vos e admoestai-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, louvando a Deus com gratidão em vossos corações.(Cl 3.12-16)

- Aprender a ser – precisamos aprender a permitir que Ele molde em nós seu caráter, que forje em nós verdadeiros filhos de Deus, sacerdotes do Reino.

“Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim.” (Gl 2.20)

“Vós também, quais pedras vivas, sois edificados como casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais, aceitáveis a Deus por Jesus Cristo [...] Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pe 2.5,9)

Mais uma vez ressalta–se a importância do testemunho pessoal no compromisso com os propósitos do Reino: como discipular pessoas segundo os princípios divinos, se não pudermos ser o exemplo vivo do qual necessitam?
Precisamos lembrar que uma criança sempre procura imitar a conduta daqueles que a educam. Somos um referencial visível de Cristo para aqueles que chegam à igreja? Podemos cobrar dessas pessoas que sejam aprovadas no Senhor, se nosso exemplo como discipuladores deixa a desejar?


CONCLUSÃO

Em toda a história, o propósito divino de resgatar a humanidade caída incluiu o próprio homem no processo de sua restauração.
Mesmo quando Jesus pagou o preço pelo pecado da humanidade:
- estava em um corpo humano;
- verteu sangue puro, porém humano;
- morreu fisicamente, como qualquer humano.
Eu e você fomos chamados para viver segundo os princípios do Reino e para estarmos compromissados com o Senhor do Reino. E este compromisso envolve testificar acerca do Reino e motivar a submissão de outros ao Senhor.
Que tipo de Cristianismo estamos apresentando às pessoas? Será que minha vida, minhas atitudes, minhas palavras têm estimulado aos meus familiares, vizinhos, amigos, colegas de trabalho e de escola, a desejar um encontro com o Senhor e integrar o seu Reino?
Que o nosso compromisso com Ele seja palpável aos olhos do mundo, que a força de nossas ações testifiquem o amor e o poder transformador de Cristo, que a essência de sua presença acompanhe nossos passos, para que todos saibam e creiam que só o Senhor é Deus.

A Missão Integral da Igreja

Falar sobre missões é discorrer sobre o papel dado à igreja de testificar ao mundo acerca de Jesus Cristo e da Salvação de Deus para o homem (At 1.8).
Todavia, compreender a dimensão que envolve essa tarefa destinada à igreja, exige ter clareza acerca de alguns aspectos que estão implícitos na visão de cristandade que possuímos, respondendo as seguintes perguntas:
. O que é o homem?
. Qual a dimensão da salvação que o Senhor Jesus outorgou à humanidade?
. Que conceito temos de Reino de Deus?
. Qual o verdadeiro papel da igreja no mundo?

O QUE É O HOMEM?

O homem é imagem e semelhança de Deus (intelecto, sentimento, vontade, atributos morais, etc). É uma unidade que ultrapassa o conceito de unidade inteligente formada de compostos orgânicos de carbono, mamífero, primata superior e bípede, constituindo-se unidade composta de três partes: espírito, alma e corpo (1 Ts 5.23).

QUAL A DIMENSÃO DA SALVAÇÃO QUE O SENHOR JESUS OUTORGOU À HUMANIDADE?

A salvação que Jesus trouxe para a humanidade, alcança a plenitude do homem, isto é:
. o espírito do homem passa a ter comunhão com o Espírito de Deus e passamos a ter consciência das coisas espirituais (Jo 4.22,23)
. a alma do homem é transformada
- seus pensamentos (1 Co 2.16b; Cl 3.1,2)
- suas emoções (Hb 10.16,17)
- seus desejos (vontade) (Sl 42.1)
. o corpo do homem é alcançado
- quanto ao uso (1 Co 6.13, 18,19)
- quanto à propriedade (1 Co 6.19; 7.4)
- quanto ao porvir (1 Co 15.35, 42-44,50-55)

QUE CONCEITO TEMOS DO REINO DE DEUS?

O Reino de Deus na vida do homem inicia a partir do arrependimento e de sua conversão, isto é, do novo nascimento (2 Co 5.17).
A transformação a qual somos submetidos com a experiência da salvação, nos proporciona que, gradativamente, sejamos inseridos no Reino e passemos a viver um padrão ético-moral diverso daquele que encontramos no mundo. Sendo assim e compreendendo que a salvação alcança de forma global o homem (espírito, alma e corpo), podemos dizer que o Reino deve alcançar essa tri-dimensionalidade do ser humano, ou seja, devemos atentar para que o Evangelho que pregamos seja pleno, atingindo todas as facetas da vida daqueles que nos cercam.
Logo, embora o conceito de Reino de Deus seja de ordem espiritual, este Reino também alcança a dimensão material da existência humana.

QUAL O VERDADEIRO PAPEL DA IGREJA NO MUNDO?

A resposta para esta pergunta definirá nossa conduta e nosso trabalho como Corpo de Cristo no mundo.
De forma geral, o papel da igreja (que muitos resumem em pregar o Evangelho) está definido em Is 61.1 (v. Lc 4.18,19): pregação, libertação, restauração, restituição e propagação.

CONCLUSÃO

É inviável que a igreja contemporânea permaneça com uma visão missionária restrita à pregação do Evangelho, unicamente como forma de anunciar as boas-novas. Ela corre o risco de ser apenas mais um discurso dentre tantos no mundo.
É necessário atentar que dentro do sistema de injustiça social, de desigualdade e de impiedade que perdura no mundo, só poderemos alcançar vidas para o Senhor, se tivermos a visão da plenitude da salvação de Deus para o homem e nossa visão de missões alcançar a integralidade do ser humano.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

DEUS NÃO EXISTE
Marcos Baptista Mendes*
Há algum tempo atrás, uma renomada revista nacional, cujo conteúdo volta-se, a princípio, para assuntos de caráter científico, publicou uma matéria alusiva a uma campanha publicitária deflagrada por uma jornalista inglesa em favor do ateísmo.
A campanha alcançou dimensão internacional, estimulando grupos de ateus de países como França, Itália, Espanha, EUA e Austrália, iniciarem suas próprias campanhas, na busca por provar aos demais integrantes da sociedade a inexistência de um Deus. Contudo, esse tipo de iniciativa não é novidade, considerando que a partir do humanismo renascentista e do desenvolvimento de um pensamento racionalista, alguns cientistas e pensadores tem tentado provar que Deus é uma ilusão ou ainda, um delírio humano.
Nosso propósito neste artigo, não consiste em provar a existência ou não de um ser absoluto, criador e onipotente, ao qual as pessoas atribuem o nome de Deus. Porém, argumentamos que o ateísmo não está de todo errado ao defender a premissa da inexistência divina. Propomos que Deus realmente não existe: Ele é!
Argumentamos que “existência” é algo que pode ser limitado em seus aspectos ontológicos, isto é, sua forma, dimensões, duração, etc. Considerando que Deus é espírito (Jo 4.24a), logo, podemos concluir que não possui forma definida, não está sujeito às dimensões mensuráveis que conhecemos e tampouco, possui limites temporais: não tem princípio, nem fim.
Se considerarmos que a existência, no sentido humano, corresponde à vida, podemos inferir que aquilo que possui existência, tem vida. Todavia, compreendemos que não se pode afirmar que Deus tem vida, pois Ele é a vida (Jo 1.1; 14.6).
Se a autora da campanha acredita na inexistência de Deus, provavelmente crê ou fundamenta-se na proposição do filósofo sofista Protágoras, que afirmou que "o homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são". Mas, como mensurar os limites da criação, ante a finitude do entendimento humano, o que incapacita o homem à plena compreensão do todo à sua volta e de si mesmo (Is 40.28; 1 Co 2.16)? Como pode o efêmero explicar o que não se atém ao tempo, mas insere-se no contexto da eternidade (Sl 90.2; 2 Pe 3.8)?
Não acreditamos que para aqueles que assim pensam, haja um sentido na vida humana, partindo do princípio que sem a eternidade, sem um propósito que nos remeta além do mundo material e temporal, a existência humana não passa de simples conjunto de ações desprovidas de finalidade. Encontrar o sentido pleno e real da vida, requer uma experiência de fé, marcante, transformadora, incompreensível aos olhos da lógica e inexplicável pelo vernáculo humano. É algo que transcende a mera crença, foge às leis naturais, às deduções antropo-sócio-psicológicas que a ciência propõe.
Esta experiência, que é domínio do espírito, possibilita-nos ter o esclarecimento de que Deus é muito mais real em Si, ou ainda, de que Ele constitui a essência de tudo o que é real, daquilo que é verdadeiro; a Fonte Suprema da vida, de onde emana todo o princípio vital e toda a inteligência.

* Marcos Baptista Mendes é Evangelista, coordenador do Setor 24 da IEADERN em Natal, Mestre em Ciências Sociais.